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Um bem-sucedido incentivo à leitura

  • Publicado: Terça, 27 de Outubro de 2020, 12h33
  • Última atualização em Terça, 27 de Outubro de 2020, 13h42
  • Acessos: 567

Mala do Livro, programa que leva cultura às comunidades, completa 30 anos

 
Entre as atividades do programa, destaca-se a contação de histórias | Fotos: Divulgação/Secec

 

Uma mala cheia de histórias, encadernadas na forma de livros ou impressas na alma de gente que mudou vidas, completa 30 anos este mês. Trata-se do Programa de Extensão Bibliotecária Mala do Livro – Biblioteca Domiciliar, iniciativa do GDF executada por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec).

A história do programa começou em 1989, na então recém-implantada Região Administrativa (RA) de Samambaia, idealizada para assentar famílias vindas de invasões de diversas partes do DF. “Com uma explosão demográfica superior ao seu desenvolvimento urbanístico, social e de infraestrutura, Samambaia contava apenas com uma pequena biblioteca localizada na Casa da Cultura”, relatou a idealizadora do programa, a bibliotecária Neusa Dourado Freire, de 80 anos, em reportagem publicada na Revista Eletrônica da Associação de Bibliotecários e Profissionais da Ciência da Informação do DF (ReABDF).

Movida pela missão de “transformar o não leitor em leitor”, Neusa procurou líderes comunitários e propôs a criação de bibliotecas domiciliares. Eles entrariam com um espaço em suas casas, a referência na comunidade e o desejo de ter livros por perto; a Secretaria de Cultura do DF forneceria acervo e capacitação para lidar com empréstimos e devoluções.  “Em 1995, alocamos mais um acervo em Samambaia e, a partir dessa data, a Mala do Livro rompeu suas fronteiras de origem”, rememora a bibliotecária, na publicação.

Neusa Dourado (de óculos), pioneira na iniciativa: missão de “transformar o não leitor em leitor”

 

Além de livros didáticos e de referência, há literatura, entre clássicos infanto-juvenis e para adultos, do Brasil e do mundo, bem como gibis e títulos ensinando a fazer coisas, desenvolvendo habilidades em pessoas carentes. É uma mala para as viagens que a imaginação humana cria.

Hoje há 193 unidades dessa biblioteca criativas – 107 domiciliares e 86 em instituições públicas e privadas. A diretora da Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), Elisa Raquel Sousa Oliveira, calcula que a Mala do Livro atende atualmente 18 mil pessoas por ano, tendo alcançado em três décadas algo na casa dos 100 mil usuários.

Mulheres-contadoras

A paraibana Maria José Lira Vieira, 67 anos,  também acompanha o programa desde o início. Memória viva da empreitada que atravessa diferentes governos sem perder o rumo, ela tem muita história para contar. Duas, em especial, chamam a sua atenção: os casos de duas mulheres – ambas chamadas Ana – que mudaram suas vidas e ajudaram muita gente a vislumbrar futuros com mais oportunidades.

Ana Abrantes tornou-se a primeira agente da Mala do Livro de Sobradinho, em outubro de 1990. Entusiasmada, lembra Maria José, ela voltou a estudar em razão da proximidade dos livros. Além de receber as pessoas em casa – tendo para isso feito um puxadinho, uma espécie de varanda de leitura –, saía pelas ruas alardeando o programa: “Ô, fulana, passa lá em casa depois que tenho uma mala para lhe mostrar”. A vizinha respondia algo como: “Ô, Ana, num tô pensando em viajar por agora não, fia”. Ana, então, a fisgava pela curiosidade: “Essa mala é diferente. Passa lá depois”.

Acesso à leitura

Maria José relata também o caso de Ana Alves, que entrou no programa, também como agente de leitura, em 1991, no Riacho Fundo. Mãe de cinco filhos, viu na Mala do Livro um meio de proporcionar à família acesso aos livros que não podia comprar. O esforço deu frutos. Todos se formaram e estão trabalhando. Ela também voltou a estudar. Na sua profissão de costureira, recomenda às clientes que escolham um livro quando vão provar a roupa. “O conhecimento que a Mala do Livro me deu, a energia, eu vou levar para o resto da vida”, afirma.

Maria do Amparo, primeira agente de leitura de Santa Maria, também enfrentou dificuldades, tanto na criação de filhos quanto no desenvolvimento pessoal, em locais com pouca estrutura. Enfrentou e venceu: voltou a estudar e se formou em serviço social. Criou a Associação Atlética de Santa Maria para tirar as crianças da rua e lançou uma escolinha de futebol. Para entrar em campo, a condição é fazer o cadastro de um livro da estante da Mala.  O nome da escolinha: Bola no pé, escola na cabeça. Eis o gol de placa de Maria.

Periferia encantada

Marluce Franklin, que atua como agente do livro em Sobradinho desde o início do programa, acredita que a Mala do Livro faz muito mais que incentivar a leitura. “É um elo entre a periferia e a cultura”, resume. “Fornecendo lanches e transporte, abriu oportunidades para as crianças, adolescentes e jovens irem ao cinema, ao teatro, às feiras de livro, aos espetáculos de dança. Nesses 30 anos, só podemos agradecer”.

Marluce Franklin (à direita), em foto feita antes da pandemia: “É um elo entre a periferia e a cultura”

 

Marluce também voltou a estudar, espécie de destino que a Mala do Livro guarda para quem se debruça sobre ela. Formou-se em administração de empresas. Criou a Associação dos Agentes de Leitura e Contadores de História do DF (Aaconte), para facilitar o recebimento de doações e fortalecer iniciativas que o programa irradia. “A Mala do Livro é o maior, mais abrangente e mais inclusivo dos programas da Secretaria de Cultura”, comemora.

Agente comunitário

A Mala do Livro é uma boa ideia que permite parcerias. Para se cadastrar como agente de leitura, basta entrar em contato com a Gerência da Mala do Livro, que estudará a viabilidade da implantação da minibiblioteca solicitada. Será analisado o tempo hábil de que a candidata ou candidato dispõe e a adequação do local para o desenvolvimento das atividades propostas pelo programa.

O agente desenvolve ações de incentivo à leitura com sua comunidade ou instituição, promovendo empréstimos de livros e outras atividades de interesse comunitário: contação e histórias, apoio nas tarefas escolares, ações socioculturais com a comunidade, orientação a estudantes para concursos públicos e vestibulares. No ato da implantação da Mala do Livro, o agente receberá orientações técnicas sobre o funcionamento da biblioteca e material para controle de movimentação do acervo.

Quer ser agente de leitura? Envie solicitação de cadastro ao e-mail: maladolivro@gmail.com.

Fonte: Agência Brasília

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