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Maryanne Wolf: os desafios da leitura na era digital

  • Publicado: Sexta, 12 de Julho de 2019, 13h59
  • Última atualização em Segunda, 13 de Setembro de 2021, 21h33
  • Acessos: 4224
Neurocientista lançou livro 'O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era'
 

Que a internet e as ferramentas do universo digital mudaram o mundo – e, aliás, seguem mudando um tanto mais a cada dia – até um ponto absolutamente insuspeitado há poucos anos, ninguém mais desconhece. No entanto, até onde seguirá essa mudança, e até que ponto será mais positiva ou mais negativa, ainda é uma incógnita. O certo é que a rotina mudou e mudará, e tende a nunca mais ser como antes.

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Se o processo de aquisição de conhecimento, as responsabilidades coletivas e a ética indispensável à própria subsistência da condição humana seguirão preservados, eis um debate que começa a se estabelecer entre especialistas. É o que revela um livro fundamental no processo de análise e de interpretação do estado das coisas atual, o volume O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era, da neurocientista cognitiva americana Maryanne Wolf, lançado no Brasil pela editora Contexto.

Como argumenta a autora, as novas gerações, as que surgem neste princípio de milênio e se alfabetizam e educam basicamente em ambiente digital, revelam cada vez menos capacidade, propensão e paciência para qualquer coisa que implique em profundidade intelectual e concentração. São públicos que vivem na superfície de um conteúdo imediatista e sempre prontamente substituído nas mídias sociais, fascinadas com telas de computadores, tablets, notebooks ou smartphones. A última coisa que de fato fazem é ler.

Essas plataformas ou esses dispositivos tornaram-se vias por excelência através das quais interagem com seus grupos, e com o mundo (próximo ou distante). Mais do que vias, quase se tornaram a razão de ser ou o mundo em si, retratos dos objetivos, das metas ou do alcance de raciocínio ou do horizonte de expectativa.

Até que ponto o cérebro treinado para o consumo de informação no ambiente online poderá, em algum momento, ainda estar preparado para assimilar conteúdos mais densos, mais aprofundados, e não estar por completo limitado a uma percepção imediatista ou fluida, eis campo fértil para as avaliações e os testes feitos por neurocientistas. Maryanne salienta que já está claro, junto aos especialistas, que o comportamento da cognição e o próprio cérebro se formam e respondem de maneira diferente a um texto em suporte digital e ao texto impresso.

Este, pela peculiaridade do manuseio do objetivo físico, está mais próximo do que é o mundo real em si, palpável, natural, mensurável. Ninguém vive no ar ou numa suposição, num ambiente fluido. Precisa de alimento real, sono real, interação real, e as gerações digitais demonstram cada vez menos capacidade para interagirem com naturalidade em sociedade, e apresentam uma propensão crescente a fobias, a afastamento do ambiente social, a isolamento e inatividade.

Paradoxo


Como só o tempo poderá deixar claro, com mais amplitude, quais serão os reais efeitos, positivos ou negativos (ou ambas as coisas) dos tempos digitais, visto que a própria internet ainda é uma adolescente, os temas levantados pelo livro tendem a ser, ao que tudo indica, assunto para todo o século 21.

O que é certo, porém, é que no que diz respeito a leitura nas entrelinhas, muita coisa escapa por entre os dedos quando alguém já não tem ânimo nem paciência, nem persistência, para a leitura propriamente dita – a leitura que, aliás, está na base do próprio conhecimento que forjou o digital. Até porque cada vez que alguém decide sair em defesa do digital, para que seu argumento seja considerado, sempre o faz em um... livro... impresso. Só com o digital, ele ainda nem se sustenta.

 
O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era, de Maryanne Wolf. Trad. de Mayumi Ilari e Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2019. 256 p. R$ 59,90.
Foto: Divulgação
O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era, de Maryanne Wolf. Trad. de Mayumi Ilari e Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2019. 256 p. R$ 59,90.

 

A origem não natural e, sim, cultural do letramento – primeiro aspecto enganosamente simples a considerar sobre a leitura – significa que os jovens leitores não têm um programa de base genética para desenvolver esses circuitos. Os circuitos do cérebro leitor são formados e desenvolvidos por fatores tanto naturais como ambientais, incluindo a mídia em que a capacidade de ler é adquirida e desenvolvida.

Cada mídia de leitura favorece certos processos cognitivos em detrimento de outros. Traduzindo: o jovem leitor tanto pode desenvolver todos os múltiplos processos de leitura profunda que estão atualmente corporificados no cérebro experiente, completamente elaborado; ou o cérebro leitor iniciante pode sofrer um “curto-circuito” em seu desenvolvimento; ou pode adquirir redes completamente novas em circuitos diferentes. Haverá profundas diferenças em como lemos e em como pensamos, dependendo dos processos que dominam a formação do circuito jovem de leitura das crianças.

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